Umbanda Hoje

A HISTÓRIA PERMANECE.
OS DELÍRIOS PASSAM!

A Tentativa de Desconstrução (Destruição) da História da Umbanda


Não basta cortar as ervas daninhas que invadem seu pomar.
Antes, arranque-as pela raiz, para que somente folhas, flores e frutos sadios se multipliquem.
(frase nossa)

       Não é de hoje, e as narrativas, umas sutis, outras bastante incisivas, que correm no mundo virtual assim confirmam, que certos indíviduos, talvez articulados entre si no insano propósito de substituir fatos por falácias, verdades por suposições, história por ficção, enfim dar uma roupagem nova, ainda que as “vestimentas” sejam elaboradas com base em ideologias alienantes, fontes dúbias e interesses escusos, aos fatos (acontecimentos – eventos com força probante) que compõem os pilares históricos de nossa religião. Não se assuste umbandista de fato e de direito, umbandista que renuncia, ainda que parcialmente, aos seus afazeres sociais para estar nos dias e horas determinados dentro de um Templo de Umbanda, seja como integrante da corrente mediúnica, seja como colaborador da Casa, ou como assistente da Instituição. Não se espante fiel e responsável trabalhador mediúnico, que abraça a Umbanda não somente como uma religião, mas também como uma filosofia de vida, que muitas vezes doa um pouco do que tem, mais muito para ti, em favor do bom funcionamento e êxito dos trabalhos mediúnico-espirituais de um Terreiro, mas…sim, existe um movimento perpetrado por indivíduos ou grupos de indivíduos, quem sabe coordenados, para depreciar, macular, diminuir, menosprezar, desacreditar o espírito que se identificou no plano terreno como Caboclo das Sete Encruzilhadas. Os detratores da história de nossa religião sugerem que: Ou Caboclo não passou de invenção; ou o Caboclo era mentiroso; ou ainda que tal entidade espiritual era um galhofeiro do astral se divertindo às custas da fé alheia. Tal investida não para por aí; avança também sobre a figura de Zélio Fernandino de Moraes, médium através do qual o iluminado espírito já citado, anunciou em novembro de 1908 o advento de nossa querida Umbanda, insinuando que um jovem, à época com 17 anos, e seus avós, pais, tios, irmãos, primos, amigos, em conluio, inventaram narrativas, criaram farsas, fomentaram mentiras sobre o surgimento da Umbanda, e que a História de nossa Religião (com espíritos e encarnados), o Caboclo das Sete Encruzilhadas e a Anunciação da Umbanda não passam de “Mito da Fundação”, aplicando ao termo “mito” o significado de lenda, ficção, ou oposição à verdade. Há quem afirme também que o jovem Zélio, adolescente em 1908, teria percorrido as nominadas “Macumbas Cariocas” para obter informações de cunho religioso e ritualístico para criar a Umbanda, Vejam o que um estado mental febril é capaz de destilar sobre um garoto para tentar justificar os própios devaneios. Em realidade, não se conformam, ficam coléricos e indignados com a verdade que lhes estampa a face: O advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas e a comunicação de um novo culto foi um movimento vertical, do Plano Espiritual para o Plano Físico, simples assim, “doa a quem doer”; é FATO. Atentem para o nível execrável de ataques a que chegaram determinados elementos, colocando sob suspeita o caráter, a ética, a moral, a boa índole, tanto de Zélio de Moraes quanto de sua familia, parentes, amigos, além, é claro, dos inúmeros desconhecidos que estiveram presentes em 16 de novembro de 1908, na casa da família Moraes, assim que tomaram conhecimento do que viria a acontecer. E não ache que estas ações deploráveis estão partindo de fora para dentro da Umbanda. Não, não! São pessoas que se dizem umbandistas, mas são “artistas” virtuais usufruindo do nome de nosso segmento religioso para se promoverem, e que estão em atividade dentro da religião, utilizando o sagrado para auferir ganhos financeiros, adquirir falsa notoriedade, difundir doutrinas degeneradas, implantar ideologias abissais, alcançar visualizações em redes sociais etc. São aqueles mesmos que pisaram em um terreiro graças aos pontas-de-lança do passado (espíritos e médiuns) que confrontaram vis oponentes, que derrubaram muralhas de discriminação e abriram caminho, em meio a pontiagudos espinhos, para que os umbandistas pudessem professar e se orgulhar de sua religião. Chafurdados com o fel dos ingratos e maledicentes, eles, os desabonadores, engendram vil ação para com a História da Umbanda.

            Pode ser que os amigos leitores estejam atônitos e incrédulos sobre o até aqui exposto, antes mesmo de buscarem se inteirar sobre o tema, vale dizer, observarem, refletirem e formarem opinião, pensem tratar-se de teoria da conspiração, especulação delirante ou hipótese inconsistente. Especialmente para os que assim se posicionarem, um só pedido faremos: Leiam a matéria até o final.

           Sem jamais esquecer, dando-lhe o devido e merecido valor histórico, em uma de suas várias obras, notadamente “As Religiões do Rio”, de 1904, livro forjado por Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, membro da Academia Brasileira de Letras, que se valeu do pseudônimo João do Rio, para dar vazão ao seu inquestionável e reconhecido talento como escritor, jornalista, tradutor, cronista e teatrólogo, o autor estabeleceu um marco na descrição in locu dos cultos de caráter religioso que fervilhavam no Rio de Janeiro do início do século XX. Em sua pesquisa de campo Paulo Barreto (João do Rio) jamais encontrou algo que se assemelhasse ao que conhecemos como Umbanda, além, por óbvio, de não ter esbarrado com qualquer pessoa ou grupos que utilizassem o termo Umbanda como nominativo de alguma religião, motivos pelos quais nas enriquecedoras páginas de seu livro tal nomenclatura jamais tenha sido citada.

            Como percebido pelos termos in locu e pesquisa de campo acima destacados, Paulo Barreto não era um jornalista de escrivaninha ou escritor de gabinete. Para captar um robusto e autêntico acervo para compor o livro “As Religiões do Rio”, seu tino investigativo o levou a percorrer a então capital da República para ver, observar, colher informações, entrevistar sacerdotes e fiéis, conhecer lugares de culto religioso, entender como os mecanismos de crença e fé atuavam na mente e no comportamento cotidiano dos cidadãos, e suas conexões com práticas religiosas de origens diversas. Tal importância tem a obra mencionada que até hoje é utilizada como referência em pesquisas e estudos pertinentes ao universo religioso daquele período.

      Filho de Umbanda não se importa quando balançam a Aroeira.

Filho de fé tem raíz, só quem cai é folha seca.
(frase nossa)

           Considerado o primeiro autor a discorrer sobre a Umbanda, Antônio Eliezer Leal de Sousa foi um jornalista, poeta, crítico literário, religioso brasileiro e autor do primeiro livro a abordar a nossa religião. Foi durante seu ofício, também no início do século XX, no vespertino carioca A Noite, periódico de grande prestígio no Rio de Janeiro que, através de um série de reportagens em sua coluna nominada No Mundo dos Espíritos, tomou conhecimento sobre a Umbanda, fato ocorrido em 1924. Como excelente profissional, atravessou a Baía de Guanabara em direção a Niterói, em busca de informações mais precisas sobre o local, acabando por parar em Neves, na Rua Floriano Peixoto nº 30 (número antigo, da época), chegando a um casarão, que mais tarde saberia ser a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, e que ali já funcionava desde 1908. A partir de contatos com a direção, a quem não conhecia, foi autorizado a realizar uma série de reportagens sobre o culto, suas características e a que se destinava. Sua curiosidade e perspicácia o levaram a escrever em sua coluna os acontecimentos que se sucediam naquela casa religiosa, que mais tarde culminaram na publicação dos livros No Mundo dos Espíritos e Espiritismo, Magia e as Sete Linhas de Umbanda. Tão elevadas eram a competência e o prestígio de Leal de Sousa que de seu círculo literário faziam parte nada menos que Olavo Bilac, Alcides Maya, Humberto de Campos e outros expoentes da literatura brasileira. Racional, analítico, observador e questionador eram alguns dos atributos que acompanharam a vida profissional e social do ilustre jornalista/escritor. Não obstante, rendeu-se aos acontecimentos que passou a vivenciar na religião, mais tarde abraçando-a na condição de umbandista. Para sua surpresa, em momento posterior é apontado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas como o dirigente de mais um templo fundado, Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, substituindo a dirigente Gabriela em uma das sete casas abertas por ordem do excelso espírito.

           Sem nos alongarmos em outros acontecimentos – e são inúmeros -, aí estão duas das provas inquestionáveis, aí estão dois fatos, aí estão dois dos vários indicadores que compõem a materialidade da História da Umbanda, e que enterram a sete palmos quaisquer planos maquiavélicos contra a historicidade umbandista. Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (João do Rio) e Antônio Eliezer Leal de Sousa não são a resultante de imaginação ou sandices. Assim como Zélio Fernandino de Moraes, seus familiares, amigos e terceiros presentes aos eventos de 1908, têm certidão de nascimento e certidão de óbito. Como profissionais de inequívoca qualidade, João do Rio e Leal de Sousa foram personagens de grande intelecto e cultura, respeitados e reconhecidos nos meios acadêmico, jornalístico e literário do início do século XX.

           A verdade não pode ser negada, não pode ser subtraída, não pode ser menoscabada, não pode ser jogada para debaixo do tapete. As informações estão à disposição de todos, acessível aos que desejam abraçar FATOS e lançar ao precipício opiniões desnutridas de razão e bom senso.

           Antes de encerrarmos, é prudente que saibam, ainda que o façamos de forma sintética, haja vista o assunto principal acima citado ter findado, que alguns daqueles que desejam destruir a História da Umbanda andam pinçando teorias, teses, hipóteses, suposições etc. alí e acolá para justificarem suas ações. Imaginem, foram buscar no longínquo Brasil-Colônia uma prática religiosa há muito extinta, o Calundu ou Calundu Colonial, para forçarem uma ligação temporal entre aquele e a Umbanda, vale dizer, criar uma conexão, um cordão umbilical, que é inexistente, mas que insistem em mencionar, para que possam abalizar, dar sustentação e defenestrar a história de nossa religião, substituindo-a por um continuum antropológico e social que só ressoa em mentes incaultas, desprevenidas.

           Acham que acabou? Ledo engano. Jogaram também na mesa, tal qual fizeram com a Calundu Colonial, um outro culto, que dizem eles estar extinto, mas que continua vivíssimo com terreiros e alufás (sacerdotes) em pontos do Espírito Santo, Rio de Janeiro e outros estados da federação. Trata-se da Cabula. expressão religiosa de origem Bantu, que não está na mídia, mas continua cultuando, sob a batuta de Nzambi mpongo, os Mahambas, Bakulos e Kiialas.

           Assim como tentaram criar conexão entre o Calundu e a Umbanda, também o fizeram em relação à Cabula, que é um religião com identidade própria, princípios próprios, forma de culto próprio, cânticos e fundamentos próprios, e que em nada se parece com nossa religião.

           O engodo chegou a tal ponto que “ressucitaram” até a chamada Macumba Carioca no meio da imaginária conexão de cultos. E pasmem, como nome específico de uma religião, quando é notório, tal termo é genérico, dado a qualquer manifestação religiosa do início do século XX, da periferia carioca, em que estivessem presentes manifestações religiosas de origem africana do final do século XIX e início do século XX. A Cabula e o Omolocô, por exemplo, eram taxados naquele período de macumbas cariocas, não pelos iniciados em tais cultos, mas por leigos e desafetos.

           Por derradeiro, convocamos os umbandistas a levantarem escudos e repelirem ações nefastas que visem subverter a história, os princípios, a liturgia, as características e o fim caritativo de nossa querida Umbanda, crucial para que não deixemos que terceiros maculem a nossa bandeira de fé, em cujo mastro sempre estará altiva e tremulante.

           

            Saravá, Umbanda!