Umbanda Hoje

AS ROUPAGENS ESPIRITUAIS NA UMBANDA

Breves Apontamentos Sobre suas Causas e Finalidades

       O processo de surgimento da Umbanda, é fato, foi iniciado no Plano Astral, esfera na qual, depois de ser criada a Corrente Astral de Umbanda, capitaneada por ESPÍRITOS de elevado nível ascensional, foram estruturados os princípios, hierarquias, características, finalidades, de que maneira ela, a Umbanda seria plasmada no plano físico sob a forma de religião, seu caráter universal de alcance das pessoas, o atendimento caritativo baseado no tripé Resgate-Evolução-Missão, os partícipes (espíritos e médiuns) que dariam início e impulso às práticas religiosas, doutrinárias e magísticas e, por conseguinte, a própria difusão e crescimento do novo Movimento Espiritual dentro da sociedade, ocupando assim uma lacuna existente entre a então religião tradicional e segmentos de cunho mediúnico que não tinham o perfil adequado para recepcionarem uma gama de espíritos agrupados em arquétipos de expressão da Espiritualidade, em que cada um destes modelos pudessem ser utilizados por inúmeros desencarnados, respeitadas as diversas atividades a desempenhar, a fim de que, cada um deles, os espíritos integrados à Corrente Astral, pudessem cumprir o que lhes seria mais tarde confiado. Para a anunciação da Umbanda no plano terreno, como exemplo maior, foi indicado pela Cúpula da Corrente Astral de Umbanda um espírito a quem conhecemos como Caboclo das Sete Encruzilhas.

            É de suma importância compreendermos toda a engenharia espiritual e sua relevante missão de compor os arquétipos de apresentação dos espíritos da Corrente Astral de Umbanda na religião, cujo processo foi desenvolvido segundo critérios bem coerentes com a sua finalidade.  Por ora, uma vez que são referências quando se fala em Umbanda, nosso foco será o dos arquétipos Caboclos(as) e Pretos(as)-Velhos(as).

            Mas…aonde a então recém-formada Corrente Astral de Umbanda foi buscar os arquétipos Caboclo(a) e Preto(a)-Velho(a), os mais conhecidos modelos de apresentação espiritual na Umbanda? Qual foi o critério utilizado? Que padrão foi escolhido? Que contexto foi utilizado como referencial? Bem, por questões históricas, valeram-se do fator humano, tanto em relação  aos que aqui estavam quando os portugueses chegaram, os indígenas, quanto dos que pra cá vieram de forma compulsória, como escravos, os negros, “pinçando” de tais povos os modelos espirituais que seriam tanto a identidade  quanto os pontas-de-lança da religião a ser anunciada. O arquétipo Indígena recebeu o nome de Caboclo(a), homenagem aos habitantes das matas, e o arquétipo africano recebeu o nome de Preto(a)-Velho(a), homenagem aos anciões negros (e por extensão a todos os negros). E por que foram escolhidos tais arquétipos? Ora, pelo simples fato de indígenas e negros  terem participado da formação do povo brasileiro, por terem forjado através da altivez, da resiliência e de outros atributos positivos o conceito de nação que conquistamos, cravando na religião a ser anunciada o selo de brasilidade. Alguns podem estar se perguntando: E os brancos? Bem, é notório que a não utilização de arquétipo do colonizador  deveu-se ao fato de que eles, os portugueses, dentro do contexto histórico, foram os opressores, os escravocratas, o vetor de poder, de força, que subjugou indígenas e negros. Acaso seria inteligente, lógico, de bom senso, fazer surgir uma religião em que entre os seus principais ícones espirituais estivesse o do europeu escravocrata? Claro que não! Não pensem, contudo, que a imagem do homem branco ficou à margem da Umbanda.  Tal imagem foi integrada sim à religião, mas não como símbolo, e sim como partícipe, afinal o colonizador também fez parte da formação do povo brasileiro. Sua inserção, porém, ocorreu de outra forma, e com igual inteligência, executada pelo Plano Astral.

            Antes de prosseguirmos não podemos deixar de assinalar que os arquétipos já citados são utilizados, desde a sua implantação na Umbanda, por qualquer espírito integrante da Corrente Astral de Umbanda, independentemente de terem tido ou não encarnações passadas como silvícolas ou negros, importanto somente qual é a “vestimenta” mais apropriada para a sua atuação no plano terreno.

            Para se entender de forma mais detalhada os planos da Corrente Astral de Umbanda no quesito Imagem Arquetípica, é forçoso que tenhamos em mente os termos Pacificação e Fraternidade. Foi a partir da essência destas palavras que a Espiritualidade definiu a extração e utilização das figuras ou ícones Caboclos(as) e Pretos(as)-Velhos(as) para serem os arquétipos abre-alas da nova religião. Só que, ao contrário do processo histórico de formação do Brasil, no qual os indígenas e negros (aqui falamos do plano terreno) foram as personagens-vítimas da opressão portuguesa, em que os habitantes de Pindorama (indígenas) e os imigrantes compulsórios (negros) sofreram  extremada violência (física e psicológica) perpetrada pelos colonizadores, dentro do trinômio hostilidade-subjugação-exploração, na religião a ser anunciada os arquétipos de tais vítimas (indígenas e negros) seriam os símbolos maiores. A partir desta premissa (símbolos maiores), o Mundo Espiritual engendrou belíssimo processo multifásico: Atração, Apaziguamento, Conscientização, Perdão e Conciliação. Desta forma  incontáveis espíritos, outrora encarnados nas condições de algozes ou vítimas nos períodos escravocrata e pós-escravocrata, teriam a oportunidade de, juntos e integrados a uma mesma Corrente Espiritual, passarem por experiências inusitadas e restauradoras, com vistas a superarem seus históricos encarnatórios de inimizade, rancor, vingança, discriminação, exploração, crueldade etc. Reunidos sob a batuta da caridade, enfim, poderiam alcançar a Pacificação e transmutar sentimentos negativos em pura e cristalina Fraternidade. Sim, irmãos leitores, aí está o critério ou vetor objetivo no tocante aos arquétipos exaustivamente citados, adotados e implantados na Umbanda, símbolos de resiliência, de superação, de dignidade, de sapiência, de liberdade, e tantos outros atributos projetados pelos arquétipos espirituais Caboclo(a) e Preto(a)-Velho(a).

            Sem nos afastarmos do ponto central, perguntamos: E os médiuns, assistentes ou simpatizantes da Umbanda? De que forma visualizam e absorvem os arquétipos em tela? Que sentimentos pairam na mente daqueles ao verem médiuns incorporados com seus respectivos Caboclos(as) e Pretos(as)-Velhos(as), com as características que lhes são peculiares, durante uma sessão ou gira? O que é despertado nas pessoas quando veem as entidades espirituais usando estas roupagens durante um passe ou consulta? Sim, estamos falando do aspecto subjetivo, e aí repetimos o teor de indagações anteriores: O que as imagens projetadas pelos arquétipos espirituais falam aos olhos e ao coração dos que procuram o templo de umbanda para serem socorridos? A resposta não pode ser outra senão a de serem impactados por força, por perseverança, por carinho, por humildade, por simplicidade, por sabedoria, por amor maternal, por conselho paternal, por chamado à reflexão, por energia, por vitalidade,  por triunfo, por serenidade, por dignidade, por esperança… Quem nunca se emocionou ao ouvir doces conselhos de um Preto-Velho ou Preta-Velha? Quem nunca se revigorou ao escutar palavras disciplinadoras e de incentivo de um Caboclo ou Cabocla? Quem nunca foi envolvido pelas benfazejas vibrações emanadas pelas entidades cobertas por estes arquétipos espirituais? E não esqueçamos do linguajar dos espíritos que trabalham na Umbanda:  Simples, de fácil compreensão, sem pompas ou verborragias inalcançáveis, lançando mensagens positivas e acessíveis a todas as camadas sociais.

            Sim, irmãos umbandistas e afins, nossa religião é notável engenharia da Espiritualidade, cujos pilares e vigas sustentam sua divina e fraternal missão.

            Saravá, Umbanda!