Umbanda Hoje

DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO
ON-LINE

Observações e Reflexões sobre os Devaneios Virtuais

        Não! Não mesmo! O título desta matéria não é fruto de brincadeira de porta de boteco ou de sensacionalismo barato. Infelizmente, e não nos surpreende tal notícia, o mundo virtual, a internet, ou as mídias digitais, como queiram nominar, tornou-se um campo fértil para a propagação de conceitos e práticas ditas umbandistas que vão na contramão dos princípios e orientações que nos trouxeram o Mundo Espiritual, em especial a Corrente Astral de Umbanda, para que, conscientes e responsáveis, pudéssemos aplicá-los nas relações médium-terreiro-espiritualidade, dando conhecimento aos adeptos de nossa religião, principalmente àqueles que almejam, sejam quais forem as causas, fazer parte da corrente mediúnica de um templo umbandista, do quão é importante, porém delicado, às vezes complicado, o processo de desenvolvimento mediúnico daqueles – os iniciantes – submetidos ao primeiro estágio de contato prático com energias (inteligentes ou não) vinculadas a uma Casa Umbandista ou que nela possam fluir, e de que o quanto é imprescindível que o citado desenvolvimento mediúnico aconteça em ambientes (terreiros) continuamente preparados e controlados para tal, e sob o amparo de entidades espirituais indicadas pelo Guia-Chefe do terreiro, que deverão estar incorporadas em seus respectivos médiuns, dando o devido suporte àquele que se encontra talvez na fase prática mais importante de sua jornada mediúnica, devendo, por isto, receber de forma presencial, orientação, apoio e proteção da Espiritualidade responsável pela parte prática da iniciação mediúnica do aspirante.

            Antes de continuarmos a discorrer sobre o assunto em pauta, convém expormos uma definição básica, que para o momento é de boa serventia, sobre o que é esta primeira etapa prática pela qual todo iniciante passa ao ser integrado à corrente mediúnica de um templo de umbanda, e que o faz (o iniciante) ficar apreensivo, nervoso, ansioso durante o período iniciático. Podemos definir Desenvolvimento Mediúnico dentro da Umbanda, para efeito de incorporação, como um conjunto de ações da Espiritualidade destinadas ao iniciante, com a finalidade deste (o iniciante) ter seu magnetismo individual e sua composição psico-orgânica ajustados de maneira a propiciar a aproximação e acoplamento do corpo astral de entidades espirituais ao corpo astral do indivíduo (incorporação), que passa à condição de medianeiro, um intermediário entre o plano espiritual e o físico, vale dizer, um médium. Salientamos o que afirmamos antes: É uma definição básica, simples, mas válida dentro do contexto. Duas observações importantes: 1ª Nem sempre o desenvolvimento mediúnico desagua em incorporação. Por quê? Porque nem todas as pessoas são médiuns de incorporação. 2º Mediunidade de incorporação não é privilégio, dádiva, ou presente dado a alguns. Mediunidade de incorporação é fenômeno neutro. Tanto pessoas de boa índole quanto as de má índole podem possuí-la.
            Prossigamos.

        Como dito no início do texto, a internet tem sido uma fonte inesgotável de devaveios. E em se tratando de assuntos relacionados à Umbanda, observamos a que estado de imprudência podem chegar alguns para conquistarem fama e dinheiro fácil, manipulando mentes, induzindo pessoas carentes e/ou ingênuas a tomarem como verdade aquilo que a própria razão chama de insanidade, expondo a perigo real aqueles que se submetem aos seus experimentos rendosos, que não têm noção do quão ficarão de guarda aberta frente aos infortúnios que poderão surgir ao embarcarem nesta canoa furada e sem coletes salva-vidas.

            A proposta que, alías, já entrou em execução, é a do “desenvolvimento mediúnico” à distância (na prática, indução à incorporação à distância), via plataformas de videoconferência (zoom, skype etc.), e monitorado do centro de operações virtuais do “dirigente”. De lá, com todo o conforto que o dinheiro dos incautos pode oferecer, o intitulado “desenvolvedor mediúnico” DAD (Desenvolvimento à Distância) promoveria coletivamente, sob a influência de voz “mansa e espiritualizada”, e dizeres como “faça isso, faça aquilo”, ao som de Pontos Cantados enviados para as caixas de som de PCs, Notbooks, Netbooks e celulares, o “desenvolvimento mediúnico” (na prática, indução à incorporação à distância) de indivíduos identificados por imagens dentro de quadrículas, que podem estar em outra cidade, estado ou país, mas que, pensam estes, estar com o amparo necessário, a segurança e a proteção que o desenvolvimento requer, mesmo que o dito apoio esteja a dezenas, centenas ou milhares de quilômetros, visível e audível somente pela conexão. As surreais “puxadas on-line (ao vivo)” para isto ou aquilo aconteceriam, e do outro lado da tela (lembrando que é on-line), por sugestão, por indução, os gestuais começariam a surgir, o corpo começaria a balançar, as mãos iniciariam movimentos de lá para cá, de cá para lá, e por aí vai, até que, num dado momento, “bingo”!! Um “espírito” dando o seu Saravá, outra “entidade” soltando o seu brado etc.etc.etc. Do outro lado da “linha” o desenvolvedor DAD perguntaria: É Caboclo ou Cabocla? Qual seu nome? As respostas seriam dadas, bem perto do microfone, para que soassem claras ao Orientador DAD, que sorriria, satisfeito com sua “iluminada” capacidade de promover incorporações à distância. O ego estaria massageado, a vaidade borbulhando e as mensalidades garantidas. Prenúncio de novos interessados à vista, profetizaria. Só que apenas para membros da plataforma digital, aqueles que pagaram ou pagarão mensalmente e foram ou serão arrastados para o “escurinho do cinema” (área restrita aos pagantes), Aos somente inscritos, NADA. Afinal, não se trata de caridade ou missão religiosa, e sim de um NEGÓCIO, em que foi oferecido um produto com preço, e quem o aceitou, pagou (ou pagará) o devido valor.

            Voltando ao mundo real, porque para o umbandista sério e responsável Nárnia é uma ficção, que incidentes ou mesmo acidentes poderiam surgir SE o desenvolvimento mediúnico DAD funcionasse? Para você, amigo leitor, enumeramos para reflexão algumas indagações pertinentes ao suposto desenvolvimento mediúnico à distância DAD (Desenvolvimento à Distância). São elas:

1. A inusitada ideia de realizar desenvolvimento mediúnico à distância (na prática, indução à incorporação à distância) foi de iniciativa do guia-chefe/mentor espiritual do terreiro? Ou foi um projeto criado pelo dirigente, visando executar seus experimentos potencialmente lucrativos?

2. Se a ideia partiu do guia-chefe/mentor espiritual do terreiro, ele não deveria saber que tal procedimento poderá afetar psiquica e fisiologicamente os alunos? Ou os tornarem vítimas de ataques espirituais e/ou entrechoques magnéticos? E como responsabilizá-lo, visto que o guia-chefe/mentor é um espírito?

3. Se a iniciativa foi somente do dirigente, ele assumirá a responsabilidade, caso aconteça algo aos alunos DAD? O “desenvolvedor de mediunidade” à distância assinou ou assinará previamente Termo de Responsabilidade?

4. E se a ideia de realizar desenvolvimento mediúnico à distância (na prática, indução à incorporação à distância) partiu do dirigente e foi chancelada pelo guia-chefe/mentor espiritual do terreiro, ou se a iniciativa foi do guia-chefe/mentor do templo umbandista e aceita pelo dirigente, como será compartilhada a responsabilidade, caso o tal desenvolvimento traga dissabores aos alunos DAD?

5. Quem estará pronto a intervir se surgir animismo ou mistificação em algum alunos DAD?

6. Se um ou mais alunos DAD sofrerem ataques espirituais promovidos por obsessores ou galhofeiros espirituais, quem neutralizará tais ações?

7. Se por questões psíquicas e/ou orgânicas, um ou mais alunos DAD passarem mal (tonteiras, enjoos, taquicardia, desequilíbrio mental e/ou corporal e outros incômodos, quem os socorrerá?
8. Se algum verdugo do astral intoxicar o campo áurico de um ou mais alunos DAD, quem fará a retirada do magnetismo negativo?

9. No caso de instabilidade psíquica e/ou orgânica, reflexo de energias nocivas que eventualmente possam estar na própria residência de um ou mais alunos DAD (na prática, indução à incorporação à distância), podendo provocar tombos ou acidentes mais graves, quem vai se valer de força física para impedí-los de caírem ou se machucarem?

10. Alicerçado em que o desenvolvedor à distância poderá comprovar que os alunos DAD são realmente médiuns de incorporação e de que estão incorporados?

11. Por fim, caso o aluno caia na real e desista de participar do experimento, o “desenvolvedor de mediunidade” à distância devolverá o que lhe foi pago, haja vista ser um negócio, em que houve um serviço oferecido e um pagamento efetuado, portanto sujeito às regras do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) ?
       Não pensem que as perguntas se esgotaram. Não mesmo! Existem variáveis durante o famigerado desenvolvimento mediúnico a distância DAD (na prática, indução à incorporação à distância) que não inserimos no rol de indagações. As que estão acima são alguns exemplos que achamos importantes vocês lerem e assim construírem suas próprias conclusões, para que, mais tarde, não venham a se arrepender de uma decisão tomada por modismo, comodidade ou falta de conhecimento. Você, que acaso esteja propenso a entrar nesta arapuca, pergunte ao guru virtual duas coisas: Se ele vai se responsabilizar caso aconteça alguma coisa negativa com você, e, se ele, o “pai” orientador, vai assinar um Termo de Responsabilidade. Se ele mudar de assunto ou dizer que não há possibilidade de danos, que tudo dará certo e que não há motivos para preocupação, você terá as respostas para saber com quem está lidando.

         Para nós, o desenvolvimento mediúnico deve ser obrigatoriamente presencial, dentro de um terreiro sério, lugar preparado para suportar interferências indesejáveis, eis que lá estarão entidades espirituais experientes e indicadas pelo guia-chefe da casa para serem os responsáveis por tão importante, séria e difícil fase prática a que o médium iniciante se submete, que se não for bem conduzida, poderá afetar negativamente as atividades mediúnicas de muitos.

         Observem e fiquem atentos aos “artistas” de redes sociais, notórios caça-níqueis, vendilhões de “receitas mágicas”, que se aproveitam da ignorância, ingenuidade e conveniência de muitos para “se darem bem” a qualquer custo. Por breves momentos afastem o emocional e prestigiem a razão e o bom senso, formando conceito próprio sobre se é prudente iniciantes umbandistas serem cobaias do malfadado desenvolvimento mediúnico on-line.

            Saravá, Umbanda!