Umbanda Hoje

AYAHUASCA
A Repugnante Vinculação de Substâncias
Alucinógenas Com a Umbanda

No que nos propomos, dentro das diretrizes fixadas ainda nos anos 90, período de surgimento e consolidação do Jornal Umbanda Hoje – versão impressa e, nos últimos anos, em versão digital – como veículo de  esclarecimento, difusão e engrandecimento de nosso segmento religioso, jamais deixamos de trazer à tona, de tornar público, de analisar e rechaçar desvios de caráter e comportamento infelizmente trazidos para a Umbanda ou utilizados em nome dela por uma parcela significativa de pessoas de má índole, que buscam compensar seus recalques individuais ou darem vazão aos seus devaneios éticos e morais, fenômenos negativos que ocorrem em todos os meios sociais (familiar, religioso, profissional etc.). Com o surgimento da internet em meados também dos anos 90, as aberrações que pareciam se expandir em conta-gotas saltaram para um crescimento exponencial, mostrando nas redes sociais do mundo virtual ainda mais as vísceras do que há de pior na natureza humana. Em meio a muita gente séria e comprometida com os ideais umbandistas, mistificações, espetáculos circenses, exploração da crença alheia, estelionato religioso, mercantilismo da fé, charlatanismo, terror psicológico, ameaças, são alguns, apenas alguns dos ignóbeis fatos que ocorrem em muitos terreiros ditos de Umbanda ou em mídias digitais, lugares que nada tem a ver com nossa religião, mas que se apropriam do nome, acrescido de vocábulos que induzem ou determinam o tipo de discurso e/ou atividade praticados. Como dito em outras ocasiões, a internet tornou-se um campo fértil para aproveitadores, lugar de lucro fácil para os vendilhões travestidos de umbandistas, para os salteadores da ingenuidade, do desespero e da fé cega, infelizmente levando incontáveis pessoas a serem vítimas das raposas de plantão, famintas por dinheiro e fama. E não é só. Também aqueles que vivem na busca alucinada por “cursinhos” à distância, diplomas, certificados, títulos virtuais de “pai/mãe de santo” tornam-se presas fáceis para os manipuladores de egos e vaidades.

Considerações gerais feitas, passemos ao assunto específico, direcionado aos que desejam entrar para a Umbanda, ou que nela já estejam, e aqui pedimos a especial atenção dos jovens, vítimas preferenciais de indução, sugestão, influência por parte dos assediadores digitais que, às pencas na internet, não medem esforços para subjugar os mais vulneráveis – adolescentes e jovens – a trilhar caminhos cinzentos e perigosos, apresentando e estimulando práticas que não guardam relação alguma com as atividades mediúnico-espirituais de Umbanda.

Certamente a maioria já deve ter ouvido falar sobre o “santo-daime”, uma manifestação coletiva, segundo seus praticantes, de cunho espiritual, em que há cânticos, danças, uso de instrumentos musicais, hinos, e cujo ponto central é a ingestão de uma bebida oriunda da mistura e cozimento de várias plantas, cujo nome usual é ayahuasca, e que leva muitos que a ingerem a terem efeitos orgânicos diversos, dentre os quais o estado alterado de consciência. Não vamos nos aprofundar sobre o tema, havendo muito material disponível na internet, especialmente científico, sobre os efeitos de tal produto no cérebro humano. Para nós, umbandistas, fiéis e médiuns, o que interessa é tomar ciência de três coisas importantíssimas, a saber: 1) Misturados estes vegetais, o sumo, o líquido proveniente da fervura, quando bebido, causa o que na psique? – 2) Que suposta conexão tal bebida tem com as atividades de Umbanda a ponto de inventarem o termo “umbandaime”? – 3) Quais os prováveis propósitos para se aglutinar o termo Umbanda ao termo daime?

Sobre a primeira indagação, respondemos: Estudos e experimentos científicos de renomadas instituições do ramo, além de inúmeros trabalhos acadêmicos baseados em  pesquisas com humanos voluntários, são unânimes em afirmarem que o líquido extraído da infusão (cozimento) de certas ervas conhecidas popularmente como ayahuasca (santo daime) contém princípios ativos alucinógenos, psicodélicos, que provocam a desorganização das funções cerebrais e produzem alucinações visuais e/ou auditivas, atuando diretamente no sistema nervoso central. É o que se nomina de estado alterado de consciência por ação química. Desta forma, quem ingere o chá daime, durante seu efeito no cérebro, diz ver espíritos, vultos, seres de outros planetas, criaturas horripilantes e outras projeções mentais oriundas da atuação dos ativos químicos integrantes da bebida. Além disto, quem faz uso de tal alucinógeno corre risco iminente de potencializar problemas neurológicos já existentes.

Quanto à segunda indagação, afirmamos: Tal bebida, sumo/chá (santo daime) , nunca fez parte de liturgias e rituais existentes na Umbanda, religião que jamais se valeu de elementos psicodélicos em suas atividades, que nunca teve como princípio a utilização de alucinógenos por seus médiuns para se conectarem ao mundo espiritual. Diferente dos efeitos despertados no cérebro de quem usa princípios químicos extraídos de certas ervas, na Umbanda acontecem estados alterados de consciência de forma natural, derivados principalmente da mecânica de incorporação (acoplamento do corpo astral das entidades espirituais ao corpo astral do médium). Tal fenômeno acontece de forma espontânea e voluntária, sem a utilização de produtos químicos, sem a ingestão de psicotrópicos, uma vez que os médiuns já possuem estrutura e capacidade psicofisiológicas para entrarem em estado alterado de consciência antes e a continuarem neste estado psíquico (consciência alterada) durante o trabalho das entidades espirituais nas atividades mediúnico-espirituais de terreiro.

No tocante à terceira questão, asseveramos que a aglutinação dos termos Umbanda e santo daime – “umbandaime”, para individualizar  cultos/seitas que utilizam psicotrópicos, psicodélicos, alucinógenos tem por algumas de suas finalidades: 1) Dar legitimidade a tais práticas a partir do termo Umbanda, amplamente conhecido e consolidado na sociedade, tática apta a atrair pessoas, adquirir mais seguidores e ganhar visibilidade social, aproveitando-se do nome de nossa religião para conquistarem reconhecimento, notoriedade e expandirem seu campo de atuação. 2) Justificar os fenômenos anímicos, cuja origem é a própria mente da pessoa, resultantes da ingestão dealucinógenos, como sendo manifestações de espíritos e outros seres extra-físicos plasmados pela imaginação de quem se serve de tal bebida. 3) Tentar atenuar as frustrações de alguns por não terem a faculdade da vidência e/ou audiência (de ouvir) em relação ao mundo espiritual, valendo-se de produtos químicos para satisfazerem o seu incontido desejo de ver e/ou ouvir espíritos e seres da natureza, sentir-se “incorporado” por divindades, seres angelicais, individualidades cósmicas etc.,  mas que, no caso, não passam de imagens e sons criados e alimentados pela própria mente sob o efeito do psicotrópico ingerido.

Antes de irmos para a parte final da matéria, um aviso, uma orientação, um alerta aos umbandistas, médiuns e fiéis, mas principalmente aos jovens que almejam ingressar ou que já façam parte da Umbanda: Se alguém dentro de algum terreiro que se apresenta como Umbanda tentar sugestioná-los, induzi-los, convencê-los a fazer uso de ayahuasca (santo daime) ou coisa parecida, dizendo que não se trata de um alucinógeno, de um psicotrópico, de um psicodélico, mas sim de um enteógeno (guarde bem esta palavra), não caia nesta armadilha. Explicamos: É que muitos se valem deste expediente para afirmarem que o chá/bebida fará você entrar em contato com seu “divino” interior, que seu “deus” interior será despertado, ativado, aflorado. E foram buscar no idioma grego tal termo (de entheos – deus dentro ou entheogendeus dentro + gen – geração, origem, nascimento) para mascarar que o estado alterado de consciência e o surgimento de imagens e sons se dá pela ingestão do mencionado alucinógeno e é produzido pela mente humana (animismo).

Se para muitos a ingestão de alucinógenos dentro de certos cultos/seitas traz algum benefício, compensa frustrações, equaciona complexos ou massageia o ego, que continuem com suas práticas – não é assunto nosso -, sendo responsabilidade de cada um assumir as consequências de suas ações, quer positivas ou negativas. No entanto, envolver o nome Umbanda em tais atividades nos legitima a afirmar que é de uma leviandade tal que merece a reprovação dos que professam e têm a religião como conexão com a Espiritualidade e filosofia de vida. Que usem a imaginação, a criatividade para dar quaisquer nomes que queiram ao que se prestam a fazer, mas jamais se apropriem do nome Umbanda para vinculá-lo a substâncias psicotrópicas/psicodélicas/alucinógenas.


Saravá, Umbanda!