Umbanda Hoje

EM DEFESA DE SEUS DIREITOS

            Em tempos idos, o Homem, materialista e ligado que exclusivamente aos atos e fatos físicos que o circundavam, tomado de crise existencial, resolveu traçar caminhos que o fizesse resgatar a verdadeira finalidade de sua existência.

            Ao lado desta meta sincera de busca do elo de ligação para com o Criador, daí o nome Religião, do latim religare, grupos discrepantes e oportunistas vislumbraram a conveniência de se valerem deste movimento para interesses que a moral e a ética sempre repeliram. A partir deste contexto deu-se uma dicotomia de aspirações, com grupos realmente preocupados com o reatamento em relação à Ordem Espiritual Superior, e outros desejando apenas alcançar interesses escusos e efêmeros ao Ser Humano.

            O Brasil, como quase todos os países, não ficou imune a este processo religioso de luta pelo poder. Teve início com a própria colonização, onde as esquadras portuguesas aportavam na Bahia trazendo em suas comitivas representações religiosas (católicas), que tinham a missão precípua de catequizar os nativos da Terra de Santa Cruz e exterminar os cultos indígenas existentes. As religiões ameríndias foram as primeiras a sofrerem tal perseguição, que depois se direcionou também aos cultos africanos trazidos pelos escravos.

            Na atualidade, com a crescente globalização da economia e concentração de riquezas nas mãos de poucos, o fenômeno miséria adquiriu proporções jamais vistas. Alguns tendo acesso a tudo, e a grande massa não tendo como suprir suas necessidades básicas. Em meio a esta instabilidade social, surgiram no Brasil alguns segmentos “religiosos” que, ávidos por interesses financeiros e utilizando as mesmas táticas de submissão religiosa, apenas com roupagem nova, não têm poupado esforços no sentido de denegrirem outras religiões. Promovem para isto escárnio e nossos irmãos, incentivam invasões a templos, vilipendiam objetos de culto, tomados de colérico e insano ódio para conosco.

            Diante destes fatos, nós, umbandistas, devemos estar cientes que a Constituição Federal de nosso país, conjunto de princípios morais, éticos, econômicos e jurídicos que regem as relações sociais, não se omitiu diante das injustiças impostas àqueles que, por opção, resolveram seguir caminhos diferentes de religiosidade. Assim, no título destinado aos Direitos e Garantias Fundamentais, mais especificamente  nos incisos VI e VIII do artigo 5o, a Carta Magna assegura ao indivíduo a inviolabilidade da liberdade de crença, que não seja privado de direitos por abraçar esta ou aquela religião. E mais. Assegura o livre exercício dos cultos religiosos e garante proteção aos locais de culto e suas liturgias. Da mesma forma, os incisos V e X do mesmo artigo conferem ao ofendido o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de indenização por Dano Moral, Material ou à Imagem, indenização esta extensiva aos casos de violação da intimidade, da vida privada e da honra das pessoas.

            O Código Penal, também fonte de proteção para os umbandistas, tem inserido em seu texto o crime de Ultraje a Culto e Impedimento de Ato Relativo a Ele, consubstanciado em seu artigo 208, que prevê pena de detenção de 1 mês a 1 ano, ou multa, para quem escarnecer de alguém publicamente por motivo de crença ou função religiosa, impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto.

            De forma cabal, os trechos acima transcritos afirmam que qualquer tentativa de obstar  a prática de Umbanda, dá direito ao ofendido, seja pessoa física ou jurídica, de pleitear ao Poder Judiciário providências penais e extrapenais para que tal empecilho não prospere. Cabe exclusivamente aos umbandistas a tarefa de repelirem investidas ilegais, facciosas, primeiro estudando e difundindo os princípios de fraternidade da Umbanda; segundo, utilizando os meios legais de defesa em caso de injustas agressões.

            Devemos estar preparados para as intempéries cotidianas, de modo a anularmos quaisquer tentativas espúrias tendentes a menosprezar nossos passos fraternos de amparo espiritual e material aos necessitados.

            Saravá Umbanda!