Umbanda Hoje

NA UMBANDA NÃO HÁ DOUTORES

           Em meio às atividades espírito-materiais de alguns terreiros que pregam a igualdade, a fraternidade, o amor, a caridade etc., um fato, dentre aqueles que nos deixam perplexos, tem chamado a atenção. Por isto mesmo, merece uma análise mais profunda e esclarecedora por parte daqueles que querem ver o Movimento Umbandista mais forte, coeso e coerente.

            Estamos falando da ostentação de títulos de ordem honorífica ou profissional como instrumento de aspiração ao poder e também como meio de dominação, subjugação e humilhação frente a terceiros. A Umbanda, assim como outros agrupamentos religiosos, é formada por pessoas das mais diferentes classes econômico-sociais e étnicas, que, justapostas, formam o que se denomina meio religioso intercorrente. Também é de conhecimento geral que, não obstante as pessoas terem profissões ou ofícios diferentes, todas deverão estar alí, naquele espaço de caridade, imbuídas da mesma finalidade: auxílio espiritual e material aos necessitados. Faz-se então necessário traçar uma linha divisória entre o status que algumas pessoas possam ter em sociedade e o trabalho mediúnico  exercido pelas mesmas. Todos, independentemente dos títulos honoríficos ou profissionais que possuam, deverão estar irmanados com aqueles que não puderam alcançar um estágio cultural e/ou econômico mais elevado, no sentido de juntos, darem sua cota de sacrifício e suor em prol de nossa religião.

            Com pesar, observamos que alguns indivíduos ainda julgam a existência de bondade, de caridade, de altruísmo, pela riqueza material ou intelectual que outros têm. Não que bens, cultura e inteligência sejam nocivos, muito pelo contrário. Se bem utilizados, são de grande valia para o progresso da humanidade. Referimo-nos a alguns médiuns que tratam de maneira distinta os abastados e os pobres; que tratam com pompa os que possuem títulos universitários, desprezando aqueles que possuem quando muito o primeiro grau; que dão atenção e mantém diálogos somente com aqueles que têm automóvel novo e sucesso econômico. Referimo-nos também àqueles que desejando fazer parte ou já estando no corpo de médiuns ou sendo frequentador de um terreiro, fazem tremenda e irrevogável questão de serem conhecidos e chamados como Dr. Fulano, advogado, Dr. Beltrano, engenheiro, Dr. Fulana, médica etc. Que fazem absoluta questão de alcançarem cargos ou funções que os façam importantes e admirados dentro da coletividade religiosa.

            Temos assistido alguns destes “doutores” reclamarem, apresentando seus diplomas, um lugar de destaque ou maior envergadura dentro das atividades de um Templo de Umbanda. Pressionam para que aqueles que têm alguma função ou responsabilidade dentro de um terreiro, fruto de méritos próprios, sejam substituídos, asseverando: “Eu sou formado, sou doutor, logo sou melhor e não posso obedecer a ordens ou estar em posição inferior em relação àquele que não é instruído ou formado”. A soberba, a vaidade, o orgulho, a ganância, o egocentrismo e a ambição doentia não deixam ver a estas pessoas que o que importa na Umbanda é o SER, vale dizer, ser honesto, ser dedicado à religião, ser simples, ser humilde, e não TER, ter títulos profissionais, carrões último tipo, mansões suntuosas, e um belo saldo bancário.

            A religião jamais poderá ser utilizada como ferramenta de projeção social, bem como em complemento de sucesso profissional. A Umbanda, nossa querida e elevada religião, foi plasmada do Plano Astral trazendo como carro-chefe os arquétipos espirituais de índios e negros,  que simbolizam  a humildade, a dignidade, a sinceridade e o alto grau de espiritualidade, sentimentos e virtudes ainda ausentes em muitos corações. Em nosso porto de fé não há lugar para ostentações terrenas, não há lugar para títulos materiais, tanto para espíritos quanto para médiuns e assistentes. Na Umbanda não se manifestam espíritos com o rótulo de “doutores” ou “mestres”, mas sim os esforçados e trabalhadores Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças e Exus, seguidores das diretrizes da Espiritualidade.

            Que esta simples dissertação possa de alguma forma contribuir para que alguns irmãos umbandistas, ainda impressionados com títulos e posses terrenos, alcancem o verdadeiro sentido da palavra IGUALDADE, e assim colaborem para que cada vez mais a Umbanda possa se tornar, não religião de ricos e pobres; de doutores e proletários, mas sim em segmento religioso de irmãos, unidos por laços de amor, fé e fraternidade.

            Saravá Umbanda!