Umbanda Hoje

PSICOGRAFIAS – CAUTELA NUNCA É DEMAIS

         Tema que tem despertado um crescente interesse daqueles que têm nas religiões de base mediúnica sua expressão de fé, é o que conhecemos como psicografia.

       Farto acervo literário é encontrado em bibliotecas, livrarias e internet, abordando sobre o intercâmbio entre encarnados e desencarnados. Não faltam nas prateleiras romances, crônicas, poesias etc, que mostram ou tentam mostrar ao mundo dos seres fisicamente vivos a existência e dinâmica do mundo espiritual.

            Nos templos umbandistas,  com menor frequência,  e nas casas espíritas, quase sempre são reservados dias específicos para que os espíritos possam enviar suas mensagens aos que ainda encontram-se sob as vestes carnais.

            No entanto, é patente que ao lado de comunicações espirituais verossímeis, legítimas, existem escritos que, colocados em análise, acabam por gerar desconfiança e descrédito.

            São textos apresentados cujos conteúdos revelam mensagens incoerentes, sem nexo ou lógica, ou que demonstram expressão única de pessoas encarnadas que os escreveram, portanto, sem intervenção espiritual.

            Antes de nos ocuparmos nos assuntos em si, comecemos por analisar fria e racionalmente determinados detalhes que fogem à observação de grande parte da coletividade que segue religiões de cunho mediúnico.

            A palavra Psicografia, tão utilizada para nominar mensagens do plano espiritual, é por si só incompleta para designar os textos enviados pelos amigos desencarnados.

            Porque se utilizarmos a etimologia (estudo da origem ou formação nas palavras), observarmos que o termo psicografia é formado a partir da junção de duas outras palavras, quais sejam: psico (psique) = mente e grafia = escrita. Conclue-se daí que psicografia é a expressão de uma mente através de sinais gráficos.

            A par desta explicação, cabe-nos identificar de qual psique falamos.

            Sim, pois que é notório que tanto os seres encarnados quanto os desencarnados têm mente, sede do raciocínio, da inteligência, cultura, moral etc.

            Nesta linha de raciocínio, é inconteste que existe a figura da psicografia, tanto na recepção da mensagem de um espírito por parte de um médium, que a transcreve, quanto na hipótese de uma pessoa que redige e envia correspondência a amigos.

             É que nas duas situações (mensagens espirituais ou correspondência) o que ocorre são manifestações de duas mentes, a de um desencarnado e a de um encarnado. O espírito, através de sua mente, transmite ao médium suas ideias, opiniões ou conselhos; no outro caso, uma pessoa, através de sua mente, transmite aos amigos por meio de cartas, também suas opiniões, esclarecimentos, pedidos etc.

            Asseveramos, portanto, que qualquer expressão de pensamento, seja de qualquer mente (espírito ou pessoa) é uma psicografia.

            E dizemos mais: a palavra psicografia já é em si uma redundância (excesso), uma vez que qualquer tipo de grafia (símbolos, letras, palavras etc) tem sempre como fato gerador uma mente. Deste modo, o termo psico e perfeitamente desnecessário e dispensável.

            Melhor seria que as comunicações dos espíritos fossem chamadas de espíritografias (palavra e grifo nossos), e as comunicações dos encarnados tivessem o nome de hominegrafia (homine = homem).

            Feitas estas considerações preliminares e deixando à margem de comunicações espirituais autênticas, atemo-nos a explanar sobre os intercâmbios ditos dos espíritos.

            Inequívoco é o fato de que a sociedade é uma pluralidade de consciências em vários níveis evolucionais, com ideais, interesses, ambições, desvirtuamentos, que fazem com que as pessoas tomem direções vitais distintas.

            Se há pessoas sérias e comprometidas com o esclarecimento, a saúde, o equilíbrio e o bem-estar espírito-material alheio, forçoso é dizer que em outro pólo observarmos individualidades ou coletividades que não medem esforços para manter o obscurantismo, a ignorância, o desequilíbrio etc. São aqueles que, tentando alçar lugar de destaque em certos agrupamentos ou manter ascendência sobre estes, aproveitam-se do impressionismo de algumas pessoas, atentas mais à forma do que a essência, para auferirem vantagens e serem o centro das atenções e foco de elogios e bajulações.

            Em uma sessão destinada a espíritografia, o responsável pela direção dos trabalhos deve ter sua atenção voltada, primeiro para com a moral, o caráter, e a seriedade dos médiuns ali presentes; segundo, sobre o questionamento construtivo que se deva fazer sobre o que foi escrito, antes de torná-lo público.

            É fácil nestas ocasiões aflorarem mensagens que nada mais são que a exteriorização do inconsciente do próprio médium, que acredita sinceramente estar sendo veículo de manifestação dos espíritos. Neste caso, por não haver espírito interventor algum, temos a hominegrafia do inconsciente ou animismo.

            Numa outra situação, esta sim com fins maledicentes e oportunistas, o médium simula estar recepcionando informações dos espíritos. Deparamo-nos aí com a figura da hominegrafia mistificatória, onde o suposto medianeiro dolosamente (de propósito) redige textos, produto consciente de sua mente, e os aponta como sendo mensagens dos desencarnados.

            Imperioso que os templos umbandistas que desenvolvem, ou queiram desenvolver atividades espiritográficas, tenham o cuidado de implantarem determinadas regras por ocasião do labor supracitado:

            1° Selecionar médiuns de boa índole, sérios e comprometidos com a Espiritualidade.

            2° Rogar a Espiritualidade Superior que os espíritos autorizados a transmitirem mensagens, o façam por meio de medianeiros com os quais, eles, os espíritos, não tenham tido, quando encarnados, qualquer vínculo de parentesco ou amizade.

            3° Que o dirigente dos trabalhos, na medida do possível, solicite ao espírito comunicante que forneça detalhes que asseverem fideidignidade ao que foi escrito.

            4° Observar a coerência e o nível da mensagem transmitida, exceção para as intempéries de praxe.

            5° Procurar se inteirar se o médium que recebeu mensagens espirituais não teve algum tipo de contato com amigos ou parentes do espírito solicitado a se comunicar.

            Com estas normas básicas, com certeza a atividade de espíritografia se desenvolverá de maneira segura, não deixando margem a dúvidas ou equívocos. Assegurará maior confiança aos que se propõem a serem dignos instrumentos de expressão da Espiritualidade e rechaçará do corpo mediúnico outros, interessados apenas em utilizarem-se da religião para ambições pessoais.

            Saravá nossa amada Umbanda!