Umbanda Hoje

 CANTIGAS DE UMBANDA: UMA BREVE ANÁLISE DOS FESTIVAIS

Podemos antever com certeza a ira, a fúria e o inconformismo que nossa dissertação analítica fará aflorar em determinadas pessoas dentro do Movimento Umbandista, por conta de certas verdades presentes nos intitulados Festivais de Cantigas, Concursos de Pontos Cantados, ou outras terminologias que se queiram dar, e que são reiteradamente “varridas para debaixo do tapete”.

            Asseveramos desde já que nosso ponto-de-vista não se formou e amadureceu por conta do “ouvimos dizer” ou “ouvimos falar”. Não! Baseia-se sim na averiguação in loco do que anda por trás de determinados eventos religio-culturais umbandistas. Afirmamos também que não estivemos presentes a todos os festivais que nos são contemporâneos, motivo pelo qual nossa sinopse é a resultante de uma projeção racionalizada aplicada ao tema em pauta. E para que não nos rotulem de levianos ou radicais, deixamos claro que uma plêiade de umbandistas sérios continua a difundir e enaltecer a Umbanda, sendo certo que as linhas aqui grafadas não dizem respeito a estes incansáveis laboradores da seara umbandista. Referimo-nos tão somente àqueles que tentam denegrir nossa religião, usando-a como instrumento para concretização de seus interesses pessoais, não se importando com eventuais reflexos funestos emergentes.

        Perquirimos alguns promotores dos já citados festivais sobre os motivos que os levaram a estruturar estes eventos de musicalidade religiosa. As respostas vieram na forma de duas finalidades: 1o – Divulgação da Umbanda no meio social; e 2o – Confraternização entre os umbandistas.

            Ora, o primeiro argumento é facilmente derrubado na medida em que 99,9 % dos frequentadores destas apresentações são umbandistas e alguns candomblecistas, portanto pessoas ligadas direta ou indiretamente à Umbanda, ou que Dela têm algum conhecimento e/ou afinidade. Como divulgação pressupõe mostrar algo a um público que não o conhece, vale dizer, uma novidade, tal finalidade fica totalmente sem sentido, sem ser alcançada.

       No que diz respeito à segunda argumentação, confraternização, não acreditamos ser possível, total ou parcialmente, estimularmos comunhão e interação entre os umbandistas se valendo de um instrumento inapropriado para tal, como o é uma disputa, onde se alimenta a divergência, se acirram os ânimos, onde se apresenta a rivalidade, onde há adversários e não irmãos de fé, onde as torcidas tentam maximizar as virtudes de seu candidato e/ou ponto cantado e desqualificar outras cantigas e/ou intérpretes.

            Melhor seria para fazer crescer qualitativamente a imagem da Umbanda-religião se estes organizadores promovessem visitações a asilos, creches, orfanatos, hospitais, que estimulassem ações sociais como doação de cestas básicas para a população carente, implantação de cursos profissionalizantes, assistência jurídica e outros labores mais. Temos a certeza inequívoca que tais iniciativas teriam um impacto positivo frente àqueles que têm repulsa por nossa religião, além do que, seriam poderosas ferramentas para se exteriorizar o amor ao próximo. Mas sabem por que isto não acontece? Porque, ao contrário dos festivais, nestas atividades altruístas há gastos e não ganhos financeiros.

        Passemos aos fatores estruturais e procedimentais através dos quais certos festivais se movimentam.

        Comecemos por dizer que nestes eventos não existem comissões competentes que possam avaliar a letra das cantigas concorrentes; se são compatíveis, coerentes e convenientes ao concurso. Como resultado, letras ridículas, sem “pé e cabeça”, que menosprezam os espíritos e a Iluminada Umbanda.

         Estas comissões mencionadas também não impõem regras tais como a postura dos intérpretes ou a proibição da comercialização de bebidas alcoólicas no recinto das apresentações, de caráter religioso também. A partir daí acontecem situações como intérpretes cantando as melodias como se fossem baladas profanas, e se expressando gestualmente como sambistas ou pagodeiros. Nas mesas o derrame de bebidas alcoólicas acontece sem igual; não falta a disputada cerveja. Os vasilhames “acotovelam-se” em fila dupla ou tripla, como patéticos troféus auferidos pela maior ingestão de “cevada”. E não devemos olvidar da caipirinha, “convidando” os presentes a deliciá-la.

            E experimentem proibir bebidas alcoólicas destiladas ou fermentadas nestes eventos para ver o que acontece?! Sim, companheiros, estarão presentes somente um pequeno número de pessoas, movidas pelo sentimento de prestigiar a ocasião, e não pelo prazer de bebericar.

          Mas se os idealizadores vedarem a venda de álcool, os frequentadores não apareceram e o faturamento (R$) é prejudicado. Então fica mais cômodo “fechar” os olhos para a boa imagem da Umbanda, e “abrir” os olhos para o Caixa. E não é tudo: os atrasos parecem ser uma das características comuns de certos festivais. É preciso ganhar o máximo de dinheiro possível. E só se arrecada mais, aumentando o consumo de bebidas e comidas. E só há aumento de consumição de houver atrasos. É que a fome e a sede aumentam com o passar das horas. Estratégia antiga, mas que ainda pega muitos incautos.

         Com os neurônios “à flor da pele”, a platéia espera o resultado final. Vaias e mais vaias são direcionadas. Bradam injustiça! Os intérpretes das cantigas mais bem colocadas reapresentam-se. A torcida dos derrotados exclama: “é marmelada”. Os troféus são entregues e os presentes se retiram. É hora das atenções (e mãos!) se voltarem para o Caixa. O faturamento foi bom. É um “filão” para se ganhar dinheiro que precisa acontecer mais vezes.

       E a credibilidade e a respeitabilidade da Umbanda, como ficam? Responsáveis por certos festivais se calam ante a esta interrogação. O silêncio por si só já expressa o que vai por suas respectivas consciências.

     Quanto aos irmãos de fé que promovem encontros musicais com critérios rígidos, com amor e pensando unicamente no bem da religião, desejamos boa sorte!

       Saravá Umbanda!