Umbanda Hoje

SINCRONIZANDO AS ENGRENAGENS

          Periodicamente observamos alguns dirigentes materiais de Templos Umbandistas se incomodarem em razão de não conseguirem êxito na formação de um corpo de fiéis-assistentes estável, do insignificante número de frequentadores de sessões ou giras, e do contínuo e crescente êxodo de assistentes, e de não entenderem do porquê de tais fenômenos acontecerem dentro de seus respectivos terreiros.

            Dentro do contexto supracitado fluirão nossas considerações, deixando bem à vista que não esgotaremos as causas fomentadoras de tais fatos, sendo nosso enfoque direcionado à interatividade humana.

            Ao observador mais atento, que não restringe suas atenções somente aos atos fenomênicos, mas que tem um campo de visão mais amplo, tal qual ave de rapina, além de possuir certa percepção quanto à maneira pela qual a natureza humana se movimenta, fica bastante nítido detectar os motivos pelos quais determinados eventos, objeto de “queixas” por partes de presidentes de instituições umbandistas, se concretizam.

            Devemos, porém, voltar no tempo de forma sintética, para melhor entendermos como se deu o processo de vinculação entre a Umbanda e seus fiéis.

           Quando do surgimento de nossa religião, dizendo de passagem que é a única em que há manifestação ostensiva da Espiritualidade com o mundo físico, as pessoas que a ela (a Umbanda) se dirigiam, por ignorância e consequente assombro ante aos fenômenos a priori  sobrenaturais, começaram a se colocar à margem ou em posição de inferioridade frente ao universo dos espíritos, de vez que até então a ideia enraizada em suas mentes era a de um mundo espiritual abstrato, distante, superior, fora do alcance de simples mortais, influência nitidamente católica. Repentinamente se vêem diante da manifestação visual do sagrado, sendo naturalmente levados a ter uma postura de subserviência e respeito extremados.

            Tal comportamento também foi direcionado aos sacerdotes da religião; afinal de contas, se a Espiritualidade se utiliza destas pessoas é porque devem ser privilegiadas, evoluídas, especiais, pensavam os fiéis.

            Pronto! Instaurava-se e avolumava-se uma dicotomia entre espíritos/médiuns e o conjunto de seguidores da Umbanda, vale asseverar, dois universos paralelos, que, via de regra, só se tangenciam (contato direto, pessoal) em ocasiões específicas (passes e consultas), sem, no entanto, se amalgamarem, se fundirem, interagirem.

            A maioria dos Templos Umbandistas passou e muitos ainda passam por este processo de cisão universal (situação contrária aos anseios espirituais), de mundo religioso e mundo profano, onde os “selecionados” tornam-se instrumentos de ação dos espíritos para socorro aos “hipossuficientes”, a plebe sofredora.

           Com o natural ou provocado afastamento que cindiu os terreiros em dois ambientes, os fiéis-assistentes retraíram-se no tocante a exteriorização, ao afloramento e a interação com seu referencial de fé. Citamos afastamento natural por ser um reflexo do condicionamento de inferioridade a que as pessoas foram sujeitas. Quanto ao afastamento provocado, este teve como causa a ação voluntária e consciente de muitos dirigentes físicos de terreiro em se colocarem como criaturas especiais, com dons divinos, de alta sabedoria, enfim, “os escolhidos”.

            Com apreensão visualizamos há muito uma assistência neutra, alheia, completamente dissociada do complexo mágico-religioso em sua volta. Em posição meramente contemplativa / passiva, limita-se a acompanhar com os olhos o desenrolar de uma gira ou sessão.

            Somos de opinião de que já está mais do que na hora dos dirigentes (há exceções) atentarem para esta complexa e relevante questão. Há urgente necessidade de valorização e interação entre todos aqueles que compõem a grande Família Umbandista. Imperioso que haja sincronicidade entre estas duas engrenagens (sacerdotes e fiéis) para que o motor, a Umbanda-religião, possa expandir seu campo de auxílio, amor e fraternidade.

            A instauração de dinâmico e salutar processo de participação dos assistentes-fiéis no labor de nossa religião é medida que deve ser adotada pelos presidentes de Templos, sem a qual a Umbanda ficará ceifada de um de seus maiores sustentáculos materiais.

            E não é difícil reverter tal situação, bastando apenas um pouco de boa vontade e organização. Vejamos:

· Procurem orientar os assistentes a não ficarem mentalmente dispersos durante a gira ou sessão, dizendo-lhes que eles são também importantes para a harmonia e o bom andamento dos trabalhos;

· Oriente-os quanto à importância de estarem psiquicamente conectados com as energias pulsantes no terreiro e da importância em canalizarem sua mente com as Forças Espirituais, como verdadeiros, ativos e progressivos receptores de eflúvios astrais;

· Instrua-os a oralizar os Pontos Cantados, ensinando-os o porquê de tal ou qual melodia (com exceções, é claro), incentivando-os a cantarem com alegria, fé e amor;

· Os Ritos Litúrgicos também devem ser conhecidos. A partir daí os fiéis-assistentes terão uma maior noção do que acontece no salão de trabalhos mediúnicos-espirituais;

· Implantem cursos doutrinários umbandistas para a assistência. São ótimos instrumentos para que os fiéis-assistentes tomem conhecimento das bases, diretrizes, atributos e atribuições de nossa religião, fazendo emergir assim a consciência e a convicção, religiosas;

· Façam os assistentes perceberem que eles são parte de uma grande família, que são membros de uma coletividade religiosa, comungando em torno do mesmo religare;

· Digam-lhes que são peças tão importantes quanto os sacerdotes; de que não há superioridade de um sobre o outro, tão somente funções ou atividades diferentes;

· Antes do início de uma sessão ou gira, dirijam uma palavra amiga aos fiéis presentes. Agradeçam a presença, a deferência, o respeito e a confiança que depositam na Umbanda;

· De posses dos dados pessoais dos fiéis-assistentes (nome completo, endereço, data de nascimento), enviem cartões de aniversário, natal, ou outra data importante para eles;

· Promovam encontros sociais tais como Chás, Almoços, Cafés da Manhã, Ceias etc. É um excelente recurso para se estreitar os laços de amizade para com os assistentes e seus familiares;

· Dêem, além do apoio mediúnico-espiritual, o suporte moral, do amor, da esperança, do consolo. Um bom diálogo sempre ajuda a quem se encontra diante de problemas de difícil solução.

Existem outras ações que poderão ser postas em prática para quem frequenta uma Casa Umbandista possa ficar bem à vontade, se sentir irmanado a esta grande obra de caridade que é a Umbanda.

Cabe aos dirigentes a tarefa de formação de um corpo de fiéis-assistentes forte, coeso, dedicado, fraterno e orgulhoso de ser umbandista.

Mãos à obra!

          Saravá Umbanda!