Umbanda Hoje

AS “SEGURANÇAS” DE CARNAVAL

         É de conhecimento do Movimento Umbandista, e por este fato, público e notório dentro de nossa religião, que às vésperas do carnaval, evento popular que agita grande parte da população, vários terreiros preparam e distribuem (alguns vendem) a nominada “segurança” de carnaval, objeto na forma de guias (colares) ou pequenos recipientes, contendo elementos minerais, vegetais e animais, magnetizados, acompanhados de preces impressas, medalhas com símbolos mágicos, e que constituem os conhecidos breves, amuletos, e outras terminologias que se queira dar, e que têm (ou teriam) a propriedade de proteger o indivíduo dos ataques de espíritos de baixa estirpe, formas-pensamento, bem como neutralizar a ação nefasta de fluidos deletérios e/ou miasmas/larvas astrais largamente potencializados e utilizados durante a citada festa profana, produto da psicosfera existente nesta ocasião, e dos trabalhos de magia para fins negativos, respectivamente.

         Sem nos alongarmos sobre  presente tema, porque extenso e com diversas variantes, firmaremos nosso ponto-de-vista acerca de determinadas situações ou ações que nos parecem frágeis e inconvenientes.

         Asseveramos, como premissa analítica, que não concordamos com aqueles que apontam o carnaval como o mais perigoso, temível e desastroso período para os encarnados, no que tange a atuação da espiritualidade umbralina.

         Observamos em alguns núcleos umbandistas uma propaganda excessivamente negativa e uma hipervalorização do pavor que o carnaval pode representar a nível físico e extrafísico. É relativamente comum “profetizarem” o caráter apocalíptico da citada festa, e de que só neste período as forças vibratoriamente inferiores atuariam de forma eficaz; de que somente nos dias de folia as pessoas seriam vulneráveis ao assédio do baixo astral.

           Reconhecemos que durante o carnaval e outros períodos específicos existe uma maior aglutinação de fluidos mentais inferiores, reflexo do baixo padrão de pensamentos e comportamentos humanos, situação que favorece o labor dos espíritos  malfazejos. Não significa dizer, no entanto, que tenhamos cautela somente nos dias de momo. Não! O cuidado e a prevenção contra as forças maléficas devem ser postos em prática todos os dias de nossa vida, uma vez que obsessores e pessoas de má índole não esperam por determinadas épocas para lançarem os seus venenos.

             Continuemos.

            Por conta desta publicidade nociva e exarcebada do carnaval, num verdadeiro terrorismo psicológico, há fiéis que às portas do evento em questão entram em completa paranóia; ficam abalados psiquicamente de tanto serem “martelados” verbalmente sobre os iminentes perigos que lhes esperam. Desesperados em se precaverem dos infortúnios da época, suplicam por objetos de proteção, arriam oferendas aqui e acolá, enfim, “atiram” para todas as direções. Afinal, o negócio é se defender. Outros tantos se enclausuram em seus lares, cercados por dúzias de velas acesas, com o turíbulo queimando incenso permanentemente e preces, muitas preces para que os dias dos “caras sujas” passem rapidamente.

           Dentro deste contexto, perguntamos: desejamos ter médiuns e assistentes conscientes e cautelosos, ou criaturas apavoradas e trancafiadas em suas residências? Pensamos que o melhor caminho é o da elucidação, do esclarecimento, do alerta, transmitidos de maneira racional e serena, onde o bom senso deve prevalecer. Conselhos quanto ao nível dos lugares que frequentamos, ao teor de nossos pensamentos, à qualidade de nossas ações, às pessoas que nos cercam, são de extrema valia para evitarmos situações desagradáveis, não só no carnaval, mas também no cotidiano.

           Não negamos a importância das “seguranças” de carnaval a nível real e, principalmente, a nível psicológico. Porém tais acessórios devem ser vistos como uma complementação defensiva, e não como um apetrecho que nos protege de tudo e de todos. Não é assim que a ferramenta funciona.

           Os patuás, breves, amuletos, são instrumentos de eficácia limitada no tempo e no espaço. São materiais magnetizados com certa quantidade de carga fluídica, aliada às propriedades dos materiais utilizados em sua composição, de suportabilidade restrita, que, ao neutralizar energias deletérias, se esgotam, se exaurem. Neste sentido, é relevante que os irmãos de fé que  utilizam estes objetos de defesa tenham ciência da justa e real capacidade das “seguranças” de carnaval. Tal medida torna-se de suma importância na proporção que alguns desavisados, de posse destes acessórios, achando-os penduricalhos de milagres, se expõem as mais perigosas e berrantes situações, acreditando estarem imunes espiritual e fisicamente.

           Por diversas vezes chegaram ao nosso conhecimento episódios lamentáveis em que portadores de tais seguranças se envolveram em brigas, frequentaram lugares perigosos, se excederam no uso de bebidas alcoólicas, apresentando como garantia de imunidade as tais proteções. Colheram frutos amargos por sua ignorância e ousadia. Entretanto, muitos assim agem ou agiram por faltar-lhes os devidos esclarecimentos sobre a potencialidade relativa e limitada das mencionadas “seguranças”.

           E não é só! Tais adereços de defesa jamais serão obstáculos às provas kármicas pelas quais devemos passar. Mas alguém explica tal situação? Claro que não!

           O panorama se complica ainda mais quando o indivíduo que carrega um amuleto ou um patuá sofre algum revés circunstancial ou kármico e acaba por jogar toda a responsabilidade do que ocorreu para a Umbanda, quando em realidade quem deve ser cobrado, em termos de esclarecimento, é o presidente ou diretor de culto, que foi omisso em suas atribuições de conselheiro e conscientizador.

          Por fim, dizemos que o carnaval em si não deve ser estigmatizado como sendo o responsável pelos males que sofrem alguns. Podemos participar desta folia popular tendo o cuidado de selecionarmos o ambiente, observarmos a índole das pessoas que nos cercam, e atentarmos para a qualidade de pensamentos e atos, que reputamos as melhores ferramentas de defesa.

          “Seguranças” de carnaval são importantes, porém como complementação da cautela e vigilância que devem ser inerentes a todos nós.

           Salve a Umbanda!