Umbanda Hoje

VALE O QUANTO PESA 

                Os consultórios médicos e as clínicas fisioterápicas estão recebendo um número cada vez maior de pacientes com problemas cervicais, tais como dores na coluna, torcicolos, corcovas, dormências etc. Parece-nos que uma considerável quantidade de sacerdotes umbandistas tem contribuído estatisticamente para o aumento dos casos acima referidos. Asseveramos que a causa para todos os males retrocitados tem seu nascedouro no excesso de peso que carregam no pescoço… e na consciência.

            A ironia que ora expressamos é a resultante de anos de observações de uma das vertentes negativas da natureza humana, indesejável cenário tragicômico que estamos fartos de presenciar:: A UTILIZAÇÃO DE COLARES LITÚRGICO-MAGÍSTICOS COMO INSTRUMENTO DE PSEUDOPODER E VAIDADE. Alguns, por certo, contestarão,  se ofenderão, e se irritarão contra o aqui exposto. Não nos importamos, pois a irresignação eventualmente despertada revelará que a carapuça lhes serviu na justa medida.

            Sem nos determos em detalhes que nos afastem do presente enfoque, sabemos que desde priscas eras, onde a Humanidade dava seus primeiros sinais de inteligência e emotividade, atributos estimuladores da percepção, ainda que precária, sobre a existência de forças atuantes na natureza, algo superior que transcendia o material, regente de todas as coisas que os sentidos pudessem alcançar, já era sentida a necessidade de conexão, de estar ligado à esta poderosa Energia-Motriz, surpema engrenagem do Universo. Para tal finalidade cultuavam e saudavam ao sol, a lua, as estrelas, aos trovões, aos raios, aos rios, aos mares, ao fogo, ao dia, à noite, aos ventos etc., como ícones que propiciavam uma proximidade e interação com a Divindade-Mor, que permitiam aos indivíduos sentirem-se parte do Todo e pelo Todo serem guiados e protegidos. Deste cenário observamos o surgimento dos Totens (O Sagrado Coletivo), e os patuás, breves, mandalas, amuletos, colares, e outros mais (O Sagrado Individual), confeccionados e sacralizados dentro das diversas comunidades existentes, respeitados o contexto religioso e mágico de tais sociedades, bem como seus níveis de consciência, e que resistiram ao tempo e ao espaço, no que faz prova estarem ainda em crescente e contínuo uso.

            A Corrente Astral de Umbanda, fraternidade extrafísica constituída de milhões de espíritos que se expressam em nossa religião, segundo as bases, diretrizes, características e atribuições de nossa Âncora de Luz, fez implantar na ritualística templária a utilização destes materiais de conexão e segurança pelos sacerdotes da religião. Assentados em volta do pescoço, são nominados “guias”, ou como corretamente colocamos Colares Litúrgico-Magisticos.

            Ao contrário de outrora, onde não se conhecia os fundamentos aplicados na elaboração ou confecção do Sagrado Coletivo e do Sagrado Individual, bem entendido como representações, que funcionavam a priori como ferramentas sugestivas, em nossa querida Umbanda elas, as “guias”, se revelam como a resultante da aglutinação, da condensação de forças eletromagnéticas espirituais e terrenas, que ao lado dos próprios elementos constitutivos (cristais, sementes, favas, raízes etc.) culminam por serem acessórios de efeito real no mundo das formas.

            Deixando para tema futuro o processo de preparo (magnetização, ervas, cores, fases da lua, número de contas etc.) de tais colares de labor mediúnico-espiritual, e bem assim a convenção/simbolismo que expressam, passemos ao ponto nevrálgico de nossas considerações.

           Não temos dúvida, porque público e notório, que a natureza humana em seus pontos negativos e positivos, portanto bipolar, se revela das mais diversas maneiras, aproveitando fatores internos e externos que a ela dão campo de ação. Observamos a expressão nociva da essência humana se fazer presente na questão da utilização das “guias”. Aliando ignorância própria e alheia à vaidade, um número significativo de sacerdotes andam a utilizar os colares litúrgico-magísticos como símbolo de suposto poder e conhecimento, fazendo muitos incautos acreditarem que a quantidade, tamanho e diversidade de tais acessórios estejam diretamente vinculados a uma mediunidade acima de qualquer suspeita, e a interação com espíritos da mais alta esfera astral.

          É relativamente comum notarmos em alguns terreiros o desfile de alguns médiuns ostentando seus balangandãs, verdadeiras árvores de natal, procurando fazer o possível para serem percebidos, notados, enfim querendo chamar a atenção daqueles que têm noção errada sobre a finalidade de uma “guia”. Utilizando colares dos mais variados tipos, consoante sua bizarra vaidade, vão os corcundas de plantão contando os tacos e pisos do chão, eis que o peso não lhes deixa direcionarem visão para outro ponto cardeal.

            Consulentes pouco instruídos procuram logo detectar que sacerdote detém maior e mais chamativo número de colares. Afinal de contas, se o médium os utiliza  sinal que trabalha com espíritos poderosos e evoluidíssimos, capazes de resolverem qualquer problema, pensam eles. Se por outro lado médiuns incorporados estiverem utilizando poucas, uma ou nenhuma “guia”, os espíritos que com eles labutam, e o proprio medianeiro, são taxados de fracos, sem poder, atrasados, necessitando de luz, muita luz. E este cenário, péssimo para o Movimento Umbandista, é alimentado, é abastecido por aqueles que fazem absoluta questão de serem conceituados como mestres, avatares, magos, sumo-sacerdotes, e outras terminologias similares.

            É necessário que os dirigentes de bom caráter, de boas intenções, façam um grandioso movimento de conscientização na coletividade umbandista, dando-lhes as informações necessárias, os conhecimentos básicos, para que não se impressionem ou se deslumbrem com imagens exóticas, com expressões de vaidade. Para combater e neutralizar os desvios de comportamento a que aludimos nada melhor do que instrução doutrinária, do que estudo acerca dos preceitos, conceitos e práticas umbandistas. Só assim a religião crescerá qualitativamente, empurrando para o limbo aqueles que insistem em colocar seus interesses e ambições pessoais acima dos postulados umbandistas.

            Diga Não ao exibicionismo.

            Saravá Umbanda!