Umbanda Hoje

MEMÓRIA - Jornal Umbanda Hoje

A ESCOLA DE UMBANDA
ZÉLIO FERNANDINO DE MORAES

 Um Breve Histórico

           Carimbado como periódico de seriedade e credibilidade dentro do Movimento Umbandista do Rio de Janeiro, não obstante sua boa imagem tenha alcançado outras regiões do Brasil, seja de forma impressa, seja por sua página na internet, o Jornal Umbanda Hoje continuava a sua caminhada de anos, levando informações relevantes tanto para umbandistas quanto para os que, por curiosidade ou afinidade, buscavam conhecer os princípios, bases, diretrizes e as atividades próprias da religião.

            Durante este período solar, em que o jornal se fez presente na vida de muitos umbandistas, médiuns e fiéis, trabalhamos incansavelmente para, dentro da lógica e do bom senso, abrir os olhos de uma parcela significativa do Movimento Umbandista para os crescentes e recorrentes absurdos que aconteciam (e ainda acontecem) em vários terreiros, invariavelmente maculando nossa religião e colocando em cheque a imagem do mundo espiritual atuante na Umbanda. Não nos cabe, por ora,  detalhar os dissabores verbais e visuais promovidos por muitos umbandistas e, infelizmente, celebrados por uma massa de indivíduos que batiam (e ainda batem) palmas para espetáculos circenses, que massageiam o ego alheio e/ou “prestam culto” aos interesseiros de plantão.

            Decidi, no final de 1999, que era tempo do Jornal Umbanda Hoje estar mais próximo daqueles que se alimentavam dos textos publicados pelo periódico. Por esta razão fundei, com o apoio de meu amigo de longa data, Hugo Salles Saraiva e posteriormente da amiga Carla Gama Lima, a Escola de Umbanda Zélio Fernandino de Moraes, que tinha por fim transmitir conhecimentos relativos aos princípios da religião, conceitos, liturgia, ritualística, e outros assuntos imprescindíveis ao dia-a-dia dos umbandistas, tais como História da Umbanda, Pontos Cantados, Pontos Riscados, Ervas, Mediunidade, enfim uma gama de temas que reputava (e reputo) de grande valia para os professantes da Umbanda, principalmente os médiuns iniciantes. Não era um Núcleo de formação de Dirigentes, destes que jorram por aí, dando diplomas e induzindo o incauto que a partir de tal, estaria apto a abrir um terreiro e se intitular “dirigente”, ou ainda aqueles que prometiam implantar a mediunidade de incorporação na “cabeça” de outros, habilitando-os, pasmem, a se tornarem médiuns, mais especificamente, médiuns de incorporação. Sabemos que isto não é possível. Quem é, é! Quem não é, não é! Vale salientar que a mediunidade, em seus vários aspectos, não é um dom, uma dádiva, que somente os de boa índole e de bom coração possuem. Quem assim pensa, comete um equívoco. Mediunidade é faculdade psico-orgânica neutra em relação a quem a tem. Fica bem entendido que tanto pessoas más como boas podem tê-la, que tanto pessoas inescrupulosas quanto as de bom caráter podem possuí-la. O que varia é razão de tal ou qual indivíduo a possuir, além, é claro de sua finalidade, que no mais das vezes, é de resgate (nem sempre cumprido e muitas vezes desvirtuado);  de evolução individual (do próprio médium em primeiro lugar), ou missão (responsabilidade sacerdotal sobre um grupo de pessoas).

            Não, não mesmo!! Não é um diploma que faz de alguém um eventual dirigente de terreiro,  mas sim a sua predestinação, o seu conhecimento, a sua vivência, a sua experiência, o seu intelecto. E estes e outros atributos não são alcançados tomando por base um pedaço de papel, ou assistindo vídeos de youtube, ou ainda assistindo aulas virtuais à distância. Também não é um pedaço de papel e/ou mídia virtual que faz alguém ser médium, mas sim a sua estrutura psiquica, energética, orgânica etc. Pular ou burlar etapas é como subir uma escada em que faltam muitos degraus, o que torna para aqueles que a acessam um caminho de iminentes tropeços e quedas.

            A Escola de Umbanda Zélio Fernandino de Morais também não se pautava por aulas práticas; isto era impensável, fora de propósito. Não havia as tais “aulas práticas” de magia, de oferendas, de “incorporação” e outros “produtos” disponibilizados aos “fura filas”, que pagam até o que não têm para auferir o status de “médium e magista” e assim poderem alimentar o próprio ego.

             Sempre fui exigente comigo mesmo, talvez meu maior crítico, procurando fazer o melhor possível dentro de minhas limitações, tanto na vida pessoal, quando na religiosa. E não poderia ser diferente, uma vez que não há como, sob minha ótica, ter uma vida social dissociada da religiosa. Sei que muitos conseguem, mas para isto, e nunca quis, é preciso usar máscaras. Como não sou adepto de “adereços” faciais ou dissimulações, continuei com minha consciência tranquila e convicto do caminho correto percorrido. Criei regras para mim, e mesmo podendo descartá-las a qualquer momento, não o fiz, pois foram e são boas para minha vida. Como reflexo, por ocasião do surgimento da EUZEFEM (Escola de Umbanda Zélio Fernandino de Moraes), fiz absoluta questão que tais regras, normas de pensamento e conduta, fossem aplicadas nas aulas que eu e o Hugo, já mencionado, ministramos. E não nos arrependemos ou decepcionamos, o que, por si só, foi uma grande vitória.

          Sobre o nome dado ao núcleo de estudos ritualísticos-doutrinários, mais uma singela homenagem, tive especial cautela para adotá-lo. E para isto,  muito antes de utiliza-lo publicamente, estive com Zílméa de Moraes e Zélia de Moraes, explicando-lhes sobre o projeto, ocasião em que também solicitei pemissão para nominar a escola com o nome de seu pai, Zélio Fernandino de Moraes. Conhecendo-me pessoalmente e sendo leitoras assíduas do Jornal Umbanda Hoje,  autorizaram o pedido feito.

           Mais uma etapa superada, agora era hora de providenciar um lugar simples, mas apropriado à importância do que ia ser feito. Confesso que foi difícil encontrar um local adequado, e quando me deparava com algum, ao informar a finalidade do aluguel do espaço, algumas pessoas recusavam. A colaboradora Carla Gama Lima foi a responsável em apontar uma sala no bairro do Catete, próximo ao Palácio de mesmo nome. Sendo amiga da proprietária do imóvel, a locação se deu de forma simples e rápida. Como o Curso já estava preparado há algum tempo, tratamos de nos concentrarmos na parte prática. Comprei cadeiras universitárias, umas 30, e com o amigo Hugo, tratamos de leva-las ao endereço alugado. Foram disponibilizados um quadro branco, canetas pilot e uma série de acessórios indispensáveis ao curso, que foi dívido em 5 sábados, sendo o penúltimo para a prova escrita e a correção, e o último para entrega de certificados e posterior confraternização. No quarto sábado, como já dito, em que foi ministrada a prova escrita, todos se saíram muito bem, com notas altas, reflexo do interesse  e do estudo que fizeram nas apostilas  que distribuimos a cada um.

           Lembro-me  bem que no 5º sábado  saí em disparada para Niterói, a fim de pegar a querida amiga Zilméa de Moraes que, quando convidada a prestigiar o encerramento do curso, aceitou estar presente na entrega de certificados e no coquetel de confraternização. Eu, ela e o Carlão (na época, genro de Zilméa) chegamos rápido ao Catete. Foi uma alegria, uma satisfação, uma felicidade, quando os alunos viram Zilméa (eu disse aos alunos que faria uma surpresa a eles). Abraços, beijos, fotos, um breve discurso de Zilméa, meu e do Hugo, e o orgulho de todos por estarem ao lado da filha de Zélio de Moraes, a quem conheciam apenas de nome ou foto.

            Vinho branco, refrigerantes, canapés  e salgadinhos sortidos foram oferecidos aos alunos e aos convidados, enquanto o bate-papo descontraído continuava na sala. Zilméa estava quase sempre cercada; queriam ouvir daquela distinta, simpática e experiente umbandista histórias sobre o Caboclo das Sete Encruzilhadas, sobre Zélio e sobre a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade. O evento durou certa de 2 horas, muito embora os participantes quisessem ficar por mais tempo. Queriam aproveitar ao máximo a presença da ilustre visitante e madrinha do curso.

            Foi uma tarde/noite inesquecível para todos, que puderam estar juntos e “beber” da fonte muitos ensinamentos e histórias de tempos idos. Como era uma senhora, não poderia ficar mais que o necessário (permaneceu mais do que o esperado), e com a mesma satisfação e prudência que a busquei, deixei-a na porta de casa, sob os cuidados do Carlão. Agradeci muito a sua presença e nos despedimos fraternalmente.

      A Escola de Umbanda Zélio Fernandino de Moraes funcionou por pouco tempo. Lembremos que no ano 2000 a internet estava em franco crescimento e muitos optaram por deixar os estudos presenciais e sistematizados sobre Umbanda para migrarem para plataformas virtuais; questão de escolha. O que posso afirmar, e o faço com orgulho, o mesmo que teve o Hugo e a Carla, que estiveram comigo durante esta empreitada, é de que a Escola, o curso, as amizades criadas, o ambiente sadio e respeitoso, deram-nos uma satisfação extremada pelo trabalho realizado. Talvez, quem sabe, a Escola de Umbanda Zélio Fernandino de Moraes possa ser reativada…só o futuro dirá. Se não acontecer, ficará a lembrança positiva do trabalho patrocinado pelo Jornal Umbanda Hoje, que ofereceu um pouco de conhecimento àqueles sedentos por saber.

           Seguem algumas fotos da primeira turma – I/2000, para ilustrarem o que até aqui foi narrado. A todos um grande e fraterno Saravá!!

 

Marco Valério Pellizer
Editor do JUH

FOTOS HISTÓRICAS

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